Pode-se
considerar o corpo humano como resultante da interseção entre a biologia e a
cultura. Todas as sociedades têm seus padrões sobre o que é belo e o que é
feio, atraente ou não, símbolo de status ou estigmatização. Na sociedade
ocidental contemporânea isso tem chegado a um ponto de gerar uma certa obsessão
em busca do corpo "perfeito" ou forma de expressão.
As pessoas
estão cada vez mais buscando produtos ou fórmulas milagrosas para ficarem
"bonitas", magras, "saradas". O padrão que é exibido na
mídia, através de artistas, modelos, é desejado por muitos. E ás vezes essa
busca leva as pessoas a um caminho contrário ao da saúde, como o da anorexia,
bulimia ou vigorexia além é claro da banalização com as cirurgias plásticas. E
essa naturalidade com que é vista a mudança da aparência pode levar a uma
desconstrução da aparência ou até a deformidades. Quanto as cirurgias de
redução de estomago será realmente que todos necessitam ou é pel
O corpo também
é usado como forma de expressão. A tatuagem, que antes era marginalizada, virou
obra artística, adereço cultural. Também é comum o uso de piercings ou de
modificações físicas e de vestuário para traduzir as características de
determinada tribo urbana. Em outras culturas também usa-se o corpo para
traduzir algo. Em alguns casos o fato de não mudar o corpo é que é o diferente.
Por exemplo, as mulheres Mursi (Tribo da Etiópia) são famosas por usar
alargadores no lábio inferior. Lá isso é sinal de beleza. Na Tailândia há a
tribo Paduang, onde mulheres usam argolas no pescoço e são conhecidas como
"mulheres girafa". E se procurarmos vamos achar mais exemplos pelo
mundo afora.
O fato é que o
corpo é, e talvez sempre será uma grande forma de nos expressarmos e
relacionarmos.
Para Martha
Graham “o corpo humano é um traje sagrado. É o primeiro e o último traje de uma
pessoa: é nele que se entra na vida e é com ele que se parte dela; deve ser
tratado com honra, e com alegria e medo também. Mas sempre com
graça."
Jaeger (1997) por outras linhas nos diz que “é possível através do
corpo, compreender a sociedade, suas normas e seus valores, onde a linguagem
corporal torna possível a identificação do grupo social a que pertencem os
indivíduos e seus pensamentos, sentimentos e ações que denunciam os valores por
estes considerados” (p. 71).
Podemos perceber que a relação do homem com o corpo ultrapassa a
esfera biológica e que todo homem é portador de características culturais
especificas em seu corpo, manifestadas através de seus sentimentos, gestos,
técnicas e etiquetas que são e estão sendo recortadas e moldadas
inconscientemente. Representações e imaginários apreendidos em uma
dimensão que engloba tais manifestações afetivas e de laço social que os atores
estabelecem entre si através do tempo.
Quando se participa de um determinado grupo, não são as semelhanças
biológicas que identificam seu pertencimento, mas os significados culturais e
sociais atribuídos às suas representações. É a diferença que possibilita a
identificação, demarcando uma fronteira, que se constituí sempre numa relação,
sendo provisória, parcial, temporária.
De acordo com Guacira Louro, “os corpos, estão longe de ser uma
evidência segura das identidades! Não apenas porque eles se transformam pelas
inúmeras alterações que os sujeitos e as sociedades experimentam, mas também
porque as intervenções que neles fazemos são, hoje, provavelmente mais amplas e
radicais do que em outras épocas. ”
Mídia e o culto à beleza do corpo
Há nas sociedades contemporâneas uma
intensificação do culto ao corpo, onde os indivíduos experimentam uma crescente
preocupação com a imagem e a estética.
Entendida como consumo cultural, a prática do
culto ao corpo coloca-se hoje como preocupação geral, que perpassa todas as
classes sociais e faixas etárias, apoiada num discurso que ora lança mão da
questão estética, ora da preocupação com a saúde.
Nas sociedades modernas há uma crescente preocupação com o corpo, com a
dieta alimentar e o consumo excessivo de cosméticos, impulsionados basicamente
pelo processo de massificação das mídias a partir dos anos 1980, onde o corpo
ganha mais espaço, principalmente nos meios midiáticos. Não por acaso que foi
nesse período que surgiram as duas maiores revistas brasileiras voltados para o
tema: “Boa Forma” (1984) e “Corpo a Corpo” (1987). Contudo, foi o cinema de Hollywood que ajudou a criar novos
padrões de aparência e beleza.
Da mesma forma, podemos pensar em relação à televisão, que veicula
imagens de corpos perfeitos através dos mais variados formatos de programas,
peças publicitárias, novelas, filmes etc. Isso nos leva a pensar que a imagem
da “eterna” juventude, associada ao corpo perfeito e ideal, atravessa todas as
faixas etárias e classes sociais, compondo de maneiras diferentes diversos
estilos de vida. Nesse sentido, as fábricas de imagens como o cinema,
televisão, publicidade, revistas etc., têm contribuído para isso.
Os programas de televisão, revistas e jornais têm dedicado espaços em
suas programações cada vez maiores para apresentar novidades em setores de
cosméticos, de alimentação e vestuário.
O consumismo desenfreado gerado pela mídia em geral foca principalmente
adolescentes como alvos principais para as vendas, desenvolvendo modelos de
roupas estereotipados, a indústria de cosméticos lançando a cada dia novos
cremes e géis redutores para eliminar as “formas indesejáveis” do corpo e a
indústria farmacêutica faturando alto com medicamentos que inibem o apetite.
Diante disso observamos que atualmente,
um ideal de corpo e de beleza é cada vez mais veiculado massivamente pelo
aparato publicitário da mídia. O corpo tornou-se assim, alvo privilegiado da
mídia e o principal “cartão de visita” na cultura contemporânea.
Evidentemente que a existência de cuidados com o corpo não é
exclusividade das sociedades contemporâneas e que devemos ter uma especial
atenção para uma boa saúde. No entanto, os cuidados com o corpo não devem ser
de forma tão intensa e ditatorial como se tem apresentado nas últimas décadas.
Devemos sempre respeitar os limites do nosso corpo e a nós a mesmos.