Cultura do Corpo

Publicado  quarta-feira, 20 de março de 2019

Pode-se considerar o corpo humano como resultante da interseção entre a biologia e a cultura. Todas as sociedades têm seus padrões sobre o que é belo e o que é feio, atraente ou não, símbolo de status ou estigmatização. Na sociedade ocidental contemporânea isso tem chegado a um ponto de gerar uma certa obsessão em busca do corpo "perfeito" ou forma de expressão.

As pessoas estão cada vez mais buscando produtos ou fórmulas milagrosas para ficarem "bonitas", magras, "saradas". O padrão que é exibido na mídia, através de artistas, modelos, é desejado por muitos. E ás vezes essa busca leva as pessoas a um caminho contrário ao da saúde, como o da anorexia, bulimia ou vigorexia além é claro da banalização com as cirurgias plásticas. E essa naturalidade com que é vista a mudança da aparência pode levar a uma desconstrução da aparência ou até a deformidades. Quanto as cirurgias de redução de estomago será realmente que todos necessitam ou é pel
o simples fato de se alcançar um corpo magro e esbelto? As academias estão cada vez mais lotadas e pessoas desesperadas pelo corpo perfeito e rápido acabam se submetendo ao uso de anabolizantes o que muitas vezes levam a morte ou a serias complicações na saúde e vida das pessoas.
O corpo também é usado como forma de expressão. A tatuagem, que antes era marginalizada, virou obra artística, adereço cultural. Também é comum o uso de piercings ou de modificações físicas e de vestuário para traduzir as características de determinada tribo urbana. Em outras culturas também usa-se o corpo para traduzir algo. Em alguns casos o fato de não mudar o corpo é que é o diferente. Por exemplo, as mulheres Mursi (Tribo da Etiópia) são famosas por usar alargadores no lábio inferior. Lá isso é sinal de beleza. Na Tailândia há a tribo Paduang, onde mulheres usam argolas no pescoço e são conhecidas como "mulheres girafa". E se procurarmos vamos achar mais exemplos pelo mundo afora.
O fato é que o corpo é, e talvez sempre será uma grande forma de nos expressarmos e relacionarmos.
Para Martha Graham “o corpo humano é um traje sagrado. É o primeiro e o último traje de uma pessoa: é nele que se entra na vida e é com ele que se parte dela; deve ser tratado com honra, e com alegria e medo também. Mas sempre com graça." 
Jaeger (1997) por outras linhas nos diz que “é possível através do corpo, compreender a sociedade, suas normas e seus valores, onde a linguagem corporal torna possível a identificação do grupo social a que pertencem os indivíduos e seus pensamentos, sentimentos e ações que denunciam os valores por estes considerados” (p. 71).
 Podemos perceber que a relação do homem com o corpo ultrapassa a esfera biológica e que todo homem é portador de características culturais especificas em seu corpo, manifestadas através de seus sentimentos, gestos, técnicas e etiquetas que são e estão sendo recortadas e moldadas inconscientemente.  Representações e imaginários apreendidos em uma dimensão que engloba tais manifestações afetivas e de laço social que os atores estabelecem entre si através do tempo.
Quando se participa de um determinado grupo, não são as semelhanças biológicas que identificam seu pertencimento, mas os significados culturais e sociais atribuídos às suas representações. É a diferença que possibilita a identificação, demarcando uma fronteira, que se constituí sempre numa relação, sendo provisória, parcial, temporária.
De acordo com Guacira Louro, “os corpos, estão longe de ser uma evidência segura das identidades! Não apenas porque eles se transformam pelas inúmeras alterações que os sujeitos e as sociedades experimentam, mas também porque as intervenções que neles fazemos são, hoje, provavelmente mais amplas e radicais do que em outras épocas. ”

Mídia e o culto à beleza do corpo



Há nas sociedades contemporâneas uma intensificação do culto ao corpo, onde os indivíduos experimentam uma crescente preocupação com a imagem e a estética.
Entendida como consumo cultural, a prática do culto ao corpo coloca-se hoje como preocupação geral, que perpassa todas as classes sociais e faixas etárias, apoiada num discurso que ora lança mão da questão estética, ora da preocupação com a saúde.
Nas sociedades modernas há uma crescente preocupação com o corpo, com a dieta alimentar e o consumo excessivo de cosméticos, impulsionados basicamente pelo processo de massificação das mídias a partir dos anos 1980, onde o corpo ganha mais espaço, principalmente nos meios midiáticos. Não por acaso que foi nesse período que surgiram as duas maiores revistas brasileiras voltados para o tema: “Boa Forma” (1984) e “Corpo a Corpo” (1987). Contudo, foi o cinema de Hollywood que ajudou a criar novos padrões de aparência e beleza.
Da mesma forma, podemos pensar em relação à televisão, que veicula imagens de corpos perfeitos através dos mais variados formatos de programas, peças publicitárias, novelas, filmes etc. Isso nos leva a pensar que a imagem da “eterna” juventude, associada ao corpo perfeito e ideal, atravessa todas as faixas etárias e classes sociais, compondo de maneiras diferentes diversos estilos de vida. Nesse sentido, as fábricas de imagens como o cinema, televisão, publicidade, revistas etc., têm contribuído para isso.
Os programas de televisão, revistas e jornais têm dedicado espaços em suas programações cada vez maiores para apresentar novidades em setores de cosméticos, de alimentação e vestuário.
O consumismo desenfreado gerado pela mídia em geral foca principalmente adolescentes como alvos principais para as vendas, desenvolvendo modelos de roupas estereotipados, a indústria de cosméticos lançando a cada dia novos cremes e géis redutores para eliminar as “formas indesejáveis” do corpo e a indústria farmacêutica faturando alto com medicamentos que inibem o apetite.
Diante disso observamos que  atualmente, um ideal de corpo e de beleza é cada vez mais veiculado massivamente pelo aparato publicitário da mídia. O corpo tornou-se assim, alvo privilegiado da mídia e o principal “cartão de visita” na cultura contemporânea.
Evidentemente que a existência de cuidados com o corpo não é exclusividade das sociedades contemporâneas e que devemos ter uma especial atenção para uma boa saúde. No entanto, os cuidados com o corpo não devem ser de forma tão intensa e ditatorial como se tem apresentado nas últimas décadas. Devemos sempre respeitar os limites do nosso corpo e a nós a mesmos.