Publicado  quarta-feira, 6 de março de 2013


Distúrbios Alimentares




ü  O que são?

São doenças psiquiátricas estando na sua origem a inter-relação de factores psicológicos, biológicos, familiares e socioculturais. Caracterizam-se, fundamentalmente por alterações significativas do comportamento alimentar.
Afetam sobretudo as mulheres jovens, aparecendo no homem apenas em cerca de 10 % dos casos. Dados como estes indicam que os distúrbios alimentares estão interligados a factores socioculturais. Existe
um largo consenso entre investigadores e clínicos que isoladamente nenhum fator etiológico só por si é suficiente para explicar o desenvolvimento de um distúrbio alimentar. A importância relativa das influências socioculturais, biológicas, psicológicas e familiares e a forma como interagem entre si pode ser diferente consoante o período de desenvolvimento da jovem, influenciando
o aparecimento ou não do distúrbio alimentar.
Sabe-se que não se deve a modas, mas que a pressão cultural para a magreza, a insatisfação e a preocupação com o peso podem contribuir, juntamente com outros factores, para um aumento da vulnerabilidade, que por sua vez pode levar á tomada de decisão de iniciar uma dieta. É pertinente referir que a dieta só por si não constitui uma condição suficiente para o desencadear de um distúrbio alimentar, mas é uma condição necessária, dado que não existem distúrbios alimentares sem dieta.

ü  Que tipo de tratamentos existem?

O tratamento do distúrbio alimentar é complexo, moroso e especializado, reconhecidamente difícil, em que a eficácia do protocolo terapêutico depende da existência de condições adequadas e de uma equipa multidisciplinar que funcione de forma a lidar, eficazmente, com os aspectos psicológicos, psiquiátricos, médicos e sociais destes distúrbios.
A intervenção terapêutica mais validada empiricamente e com melhores resultados terapêuticos (diminuição da sintomatologia e diminuição da taxa de recaída) é o tratamento cognitivo-comportamental. O modelo conceptual subjacente permite uma compreensão e formulação dos distúrbios alimentares, com base na natureza interactiva dos vários factores de risco, manutenção e de proteção.

O tratamento cognitivo-comportamental em termos gerais faz-se em três etapas:

1.     Recuperação do peso e regularização do padrão alimentar;
2.     Reestruturação cognitiva;
3.     Prevenção da recaída.

As decisões relativas ao tratamento, em cada etapa são tomadas de acordo com alguns critérios fundamentais:

ü Idade da jovem;
ü Contexto da vida atual;
ü Duração e evolução do distúrbio;
ü Sintomatologia atual;
ü Personalidade;
ü Estado físico.
Dos vários distúrbios alimentares existentes destacamos a anorexia nervosa, a bulimia nervosa, a binge, a ortorexia e a vigorexia.




Anorexia


o    Causas desta doença

§  Grande desejo de atingir a forma física enquadrada nas “exigências atuais”;
§  Pressão da própria pessoa, por falta de auto-estima;
§  Críticas ao seu aspecto físico, por parte dos que a rodeiam;
§  Valorização, por parte da sociedade atual, do modelo ideal de beleza, marcado pela extrema magreza.

o    Comportamentos de pessoas anorécticas

§  Prática exagerada de exercício físico;
§  Prática de dietas rigorosas;
§  Controlo obsessivo do peso;
§  Recusa da ingestão de alimentos;
§  Uso de laxantes e diuréticos;
§  Perda da noção da própria imagem.

o    Consequências comportamentais

§  Perda excessiva de peso;
§  Afastamento dos amigos e da família;
§  Mudanças repentinas de humor;
§  Diminuição da tensão arterial, do ritmo respiratório e da temperatura corporal;
§  Alteração do processo de desenvolvimento e crescimento do corpo;
§  Interrupção do ciclo menstrual ou impedimento do seu aparecimento;
§  Fragilidade do cabelo, das unhas, a pele fica baça e seca;
§  Perturbações do sono;
§  Pode conduzir à morte.

Bulimia


o    Causas desta doença:

§  Angústia e stress;
§  Falta de auto-estima;
§  Tentativa de neutralizar o sofrimento, causado pela solidão;
§  Valorização do corpo magro como ideal de beleza.

o    Comportamentos de pessoas bulímicas:

§  Ingestão compulsiva de alimentos muito calóricos (comida que consideram proibida);
§  Prática de grandes jejuns;
§  Uso de diuréticos e laxantes;
§  Indução do vômito;
§  Prática exagerada de exercício físico.

o    Consequências comportamentais:

§  Depressão;
§  Fadiga;
§  Irregularidade menstrual;
§  Arritmia cardíaca;
§  Fragilidade dos dentes e ossos.


Binge

            Sinônimo de “ataques de voracidade alimentar” que são característicos da bulimia. Contudo, estes indivíduos não apresentam comportamentos de auto-indução de vômito e auto-administração de laxantes e encontram-se com excesso de peso.


Ortorexia

o    Causas desta doença:

§  Obsessão pelo estado de saúde;
§  Medo de engordar.

o    Comportamentos de pessoas ortoréticas:

§  Obsessão excessiva pela qualidade dos alimentos;
§  Abstenção de alimentos gordos e com açúcar;
§  Preocupação exagerada com a confecção, a composição, a origem e a comercialização dos alimentos;
§  Leitura minuciosa dos rótulos dos alimentos.

o    Consequências comportamentais:

§  Dependência de uma alimentação que consideram saudável;
§  Falta de nutrientes existentes nos alimentos que não consomem, logo, mais susceptíveis a doenças, como a anemia e avitaminose;
§  Afastamento dos familiares.


Vigorexia

o    Causas desta doença:


§  Pressão de uma sociedade consumista e competitiva onde a “imagem vale mais do que mil palavras”;

§  Insegurança social causada por determinados complexos;
§  Influência dos modelos culturais;
§  Baixa auto-estima.


o    Comportamentos de pessoas vigorécticas:

§  Busca obsessiva pelo corpo perfeito, forte e musculado, passando muito tempo em ginásios;
§  Perda da noção da sua imagem, achando-se sempre frágil;
§  Uma alimentação exagerada em proteínas acompanhada de suplementos vitamínicos e de esteroides;
§  Prática de tratamentos cirúrgicos e dermoestéticos.

o    Consequências comportamentais:

§  Insonia;
§  Falta de apetite;
§  Irritabilidade;
§  Desinteresse sexual;
§  Cansaço constante;
§  Dificuldades de concentração;
§  Aumento da probabilidade de doenças cardiovasculares e de lesões hepáticas.


Obesidade
A obesidade é uma doença dispendiosa, de alto risco, crônica e reincidente; esta doença afeta milhões de pessoas em todo o mundo, inclusive crianças. Embora não seja nova, ela assume agora proporções epidêmicas e está a aumentar exageradamente. Esta tendência é, sem dúvida, alarmante em virtude das doenças associadas à obesidade.

A obesidade é uma doença epidêmica  crônica e multifatorial e que requer tratamento médico. É condição associada, sem dúvida, a outras doenças e à diminuição da qualidade de vida e é consequência do excesso de ingestão de gordura proveniente dos alimentos.

Desnutrição
A desnutrição é uma doença causada por uma dieta inapropriada, hipocalórica e hipoproteica; também pode ser causada por  má-absorção de nutrientes ou anorexia. Tem influência de fator social, psiquiátrico ou simplesmente patológico. Acontece principalmente em indivíduos de baixa classe social e principalmente em crianças de países subdesenvolvidos. A causa mais frequente da desnutrição é a má alimentação. Ainda outras patologias podem desencadear uma má absorção ou dificuldade de alimentação (disfagia) e causar a desnutrição. A má nutrição afeta o nosso corpo de diferentes formas e em diferentes locais:
o    Coração: O coração perde massa muscular, assim como os outros músculos do corpo. Em estado mais avançado há insuficiência cardíaca e posteriormente morte.
o    Sistema imunitário: Torna-se ineficiente. O corpo humano não vai ter os nutrientes necessários para produzir as células de defesa. Logo, são comuns infecções intestinais consequentes, respiratórias e outras anomalias. A duração das doenças é maior e o prognóstico é sempre pior em comparação a indivíduos normais. A cicatrização torna-se mais lenta.
o    Sangue: É possível ocorrer um quadro de anemia relacionada à desnutrição.
o    Tracto gastro-intestinal: Verifica-se menor secreção de ácido clorídrico pelo estômago, tornando esse ambiente mais propício para a proliferação bacteriana. O intestino diminui o seu ritmo de peristalse (movimentos involuntários que empurram o alimento (também denominado bolo alimentar, quimo ou quilo, de acordo com a fase da digestão) ao longo do canal alimentar, para que ocorra a sua digestão ao nível devido) e a absorção de nutrientes fica muito reduzida.

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