As artes marciais são assim denominadas por apresentarem a proposta de desenvolvimento integral do praticante, a partir de técnicas corporais especificamente desenvolvidas para o combate e associadas a uma prática rigorosa disciplinadora, que se apresentam de modo mais abrangente do que simplesmente um mecanismo de luta. É nesse caso que o kung-fu se enquadra.
Para o Ocidente, é provável que a imagem do
kung-fu esteja expressa em filmes hollywoodianos, produzidos em meados do
século XX. Nesses filmes, os detentores da prática do kung-fu realizam
movimentos inimagináveis em outras culturas. Segundo Mazzoni e Oliveira Júnior
(2011), alguns monges chineses são capazes de executar movimentos tão
inesperados quanto os reproduzidos cinematograficamente.
Os monges aqui referidos são aqueles pertencentes ao templo Shaolin, localizado na China. Acredita-se que o kung-fu tenha surgido na Índia e tenha sido levado à China apenas por volta de 500 d.C. pelo monge Bodidharma, que teria incluído a meditação como parte integrante da arte marcial. Sua origem budista foi parcialmente modificada ao se instalar no templo chinês Shaolin. Isso porque o budismo indiano pregava o ascetismo de seus praticantes, enquanto a versão budista de Bodidharma apenas impedia o praticante do exercício de atitudes extremas, como matar e roubar.
Até
esse momento, as práticas do kung-fu eram transmitidas apenas entre monges,
caracterizando uma relação íntima entre discípulo e mestre. No entanto, a
partir dos séculos XIV e XV, especificamente durante o governo da dinastia
Ming, houve um crescimento na quantidade de praticantes do kung-fu bastante
significativo. Assim, se antes as técnicas do kung-fu permaneciam em segredo
entre os monges do templo Shaolin, após esse período técnicas de outras artes
marciais foram agrupadas à prática dos monges, e o kung-fu deixou de ser um
segredo, tornando-se uma técnica a ser aprendida e ensinada. Esse processo
permitiu à dinastia Ming o uso dos monges como soldados, protegendo seu
território contra piratas japoneses por mais de uma vez.
Uma das características mais visíveis do kung-fu é o uso de armas. A manipulação técnica de armas para o combate remete à evolução da técnica em função de combates de guerra. Os instrumentos mais comuns são o bastão, a lança, o facão e a espada. Essas técnicas extremamente desenvolvidas de manipulação de armas caíram em desuso para soldados quando as armas de fogo passaram a ser utilizadas em campos de batalha. No entanto, ainda são parte integrante da prática do kung-fu até os dias de hoje.
Recentemente,
o kung-fu passou por um processo de esportivização, que consiste em minimizar o
apego às tradições, em prol de tornar-se um esporte de reconhecimento e de
lucratividade no mundo ocidental. Isso se reflete na regulamentação de regras
para a prática na detenção de diretrizes por parte de Federações e de
Confederações; e na tentativa de incluí-lo como esporte olímpico.
A
inclusão do kung-fu como esporte de disputa em jogos olímpicos consiste em uma
estratégia chinesa, obviamente importante, para se afirmar como potência
esportiva. Um esporte como esse, cujas disputas se dão em formatos de
categorias, podem resultar em grande quantidade de medalhas para esse país,
onde a prática do kung-fu é mais comum e, consequentemente, a quantidade de
atletas de alto nível deve manter a lógica e seguir a mesma constante.
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